É Natal. Dia de celebração para os cristãos e afins. Dia de nascimento de Jesus. Dia este onde as pessoas procuram manter-se dentro dos ditames da boa convivência social, reunidos com seus familiares e amigos. Dia de tentarmos esquecer os problemas do dia-a-dia e de avaliar o saldo do ano que se encerra.
Para os servidores da área da Segurança Pública, entretanto, é extremamente difícil avaliar como sendo o saldo positivo. A balança, durante o ano todo, foi desfavorável para muitos de nós. Um alta conta de policiais assassinados. Uma alta conta de surpresas indesejáveis, tanto na segurança, quanto na política. Sem falar na educação. Nós, policiais da segurança ostensiva – militares – não podemos, quando em coletividade, comemorar saldo positivo. Individualmente falando, talvez. Mas quando pensarmos na família policial militar, principalmente a fluminense...
Em 205 anos de existência da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, a cesta de natal não foi oferecida. A desculpa foi esfarrapada, como sempre: “os eventos ocorridos na Cidade, imprevistos (a Copa?!? Imprevisto?!?) e a falta de orçamento (falta? Ou roubo?!?) não permitiram que a PMERJ pagasse a cesta natalina”. Palavras do CMT Geral Interino, Cel Íbis, que deixa a Corporação no dia 2.
Bem, é certo que não é obrigatório o pagamento de tal benefício natalino. Mas a sua tradição é tanta que é quase um direito conquistado e todos os trabalhadores brasileiros recebem uma cesta de natal. Lembro que as férias já estão interrompidas e as escalas de Ano Novo já estão confeccionadas. Disso eles não esqueceram. Mas do direito de ser reconhecido como um trabalhador brasileiro...
Para a sorte da população fluminense, o policial militar do RJ é um escravo manso: aceita tudo o que lhe é imposto, sem pestanejar. Também, pudera, já que este mesmo integrante não acredita na sua própria corporação. Sempre se ouve “eu não acredito”... (quando mudanças profundas estão para acontecer. Mudanças positivas, diga-se de passagem). Mas acreditam cegamente quando o mal lhe é entregue.
Pelo menos e, como alento próprio, fiquei realmente feliz dia desses ao prestar um concurso onde na fila para acautelamento de material bélico a presença de policiais militares era massiva: os que não se acomodaram e não aceitam mais essa “mansidade escravagista” estão estudando e indo embora. Fico feliz quando os nomes destes aparecem em Boletim Interno com a publicação de suas transferências para outros órgãos públicos. Com a baixa de ofertas em concursos internos então, essa demanda têm sido bem maior. Eu posso até não dizer baixa, mas sim ausência, pois há 09 anos não abre concurso interno na PMERJ.
E para aqueles que foram para a reserva remunerada e foram por motivos de saúde ou acidente em serviço, outro saldo negativo: o auxílio invalidez de 3 mil reais não está sendo pago pelo Governo do Estado. Uma agonia e tristeza ver meus colegas que deram o sangue pela população fluminense e agora estão fodidos (desculpe o termo, mas não encontrei outro mais adequado). Diariamente vejo o sofrimento e descaso sofrido por deles, através deste espaço virtual.
Na conta, então, um saldo negativo, para a família policial militar.
Deste ano que passou fica difícil contabilizar algo positivo. Ano de perdas, de sofrimento...
No entanto, vou desejar um 2015 de mudanças positivas para nós. Algumas que já almejamos há algum tempo, como por exemplo, o fim do rancho e também o fim do regulamento disciplinar da ditadura. Se isso acontecer em 2015, será um ano de vitórias. E também que nenhum policial seja assassinado em 2015. Chega. Nem que para cada policial militar assassinado tenha que morrer cem políticos corruptos. Chega de morte nessa droga de Estado falido. Digo, o Estado-Nação. Porque o Estado-Membro já não é mais um Estado. Está mais para uma cadeia pública do que para um espaço de democracia.
Que 2015 seja um ano de buscas. De busca ao conhecimento principalmente. Porque o conhecmento tem a característica de nos libertar deste sistema. Conhecimento de qualquer fonte, seja acadêmico, filosófico, científico, espiritual, tanto faz. E que seja usado para o bem. Para o bem da coletividade. Talvez assim teremos um saldo positivo em 2015.
Um Feliz Natal!
Um Feliz 2015.